Simulação estrutural não é só “rodar e ver as cores”. É antecipar falhas, reduzir retrabalho e decidir com base em evidências. No Fusion 360, você consegue isso com poucos cliques — desde que configure tudo do jeito certo.
Este guia prático mostra como preparar o modelo, definir materiais, vínculos, cargas, malha e interpretar resultados — com atenção à qualidade e à validação. Também indico fontes públicas de dados e normas para te ajudar a decidir melhor.
Se você quer sair do “achismo” e colocar seu projeto no rumo certo, vem comigo. Em minutos, você terá um fluxo claro para simular, conferir a segurança e iterar com confiança — siga adiante.
Por que simular no Fusion 360?
O módulo de simulação do Fusion 360 integra CAD e CAE no mesmo ambiente. Isso acelera ajustes de geometria após cada iteração, encurta o ciclo de design e ajuda você a quantificar risco: tensões (von Mises), deslocamentos, deformações e fator de segurança. Para quem projeta peças usinadas, impressas em 3D ou chapas, é um ganho enorme de agilidade.
Pré-requisitos e preparação (o que verificar antes de simular)
- Geometria limpa: remova detalhes irrelevantes (filetes minúsculos, textos), corrija corpos não-manifold e verifique unidades
- Materiais realistas: preencha Módulo de Elasticidade, Poisson e Limite de Escoamento coerentes com a liga/termotratamento. Para apoiar escolhas, consulte bases públicas como o NIST Materials Data Repository (dados de propriedades) e, quando necessário, busque ensaio local via RBC/Inmetro (laboratórios acreditados) NISTmaterialsdata.nist.gov / Serviços e Informações do Brasil
- Hipóteses corretas: análises estáticas lineares assumem pequenas deformações/linearidade do material. Para regimes plásticos, contatos com deslizamento grande ou impactos, considere não linearidades (teoria de MEF em materiais/estruturas: livro aberto da USP) Livros Abertos+1
Referências públicas úteis:
• NIST Materials Data Repository – dados de materiais. materialsdata.nist.gov
• RBC/Inmetro – laboratórios acreditados para ensaios. Serviços e Informações do Brasil
• Portal de Periódicos CAPES – artigos e normas via acesso institucional/CAFe. Periódicos CAPES
Simulação de Tensão e Deformação no Fusion 360 — Passo a Passo
1) Abra o estudo correto
No workspace Simulation, crie um estudo Static Stress (Tensão/Deformação estática). Essa modalidade é indicada para carregamentos constantes e pequenas deformações. Se houver grandes deslocamentos ou contato com atrito relevante, avalie opções avançadas
2) Defina ou revise o material
Selecione o corpo e atribua o material. Verifique E, ν, σy e densidade. Se a biblioteca padrão não corresponder à sua liga (p.ex., diferença entre 6061-T6 e 6061-O), edite os valores. Apoie-se em repositórios públicos e literatura técnica para calibrar propriedades
3) Configure contatos
Para conjuntos, cheque se o Contact automático reconheceu interfaces. Troque “Bonded” por “Sliding/Separation” quando peças podem escorregar ou separar. Se parafuso/porca influenciam a rigidez, represente pré-carga ou utilize simplificações (vínculos rígidos com áreas de contato)
4) Aplique restrições (vínculos)
Prenda o modelo como ocorre no mundo real. Prefira restrições por faces/plano (e não por vértices) para evitar concentrações artificiais. Use simetria sempre que possível para reduzir o custo computacional e melhorar condicionamento
5) Aplique cargas
Força, pressão, momento ou aceleração/gravidade. Garanta direção, ponto de aplicação e distribuição corretos. Se a força é transmitida por um furo, evite aplicar em uma única aresta; distribua na face ou use um bearing load equivalente
6) Malha (mesh)
Comece com malha automática e refine localmente onde há gradientes (raios pequenos, entalhes, furos). Faça estudo de convergência: rode com malha média e fina e compare a tensão máxima e deslocamento. Resultado bom não depende da malha escolhida — ele converge
7) Solução
Execute o solver. Verifique mensagens e, se houver alertas de rigidez/singularidade, revise vínculos/contatos. Ajuste o solver tolerance apenas após garantir que a modelagem física esteja correta
8) Pós-processamento
Leia o mapa de tensões (geralmente von Mises), deformação (ε) e deslocamentos (u). Ative Safety Factor (SF) e identifique hot spots. Se a tensão de pico está concentrada em um elemento na borda de um vínculo, suspeite de artefato numérico; refine malha e/ou mude a condição de contorno
9) Validação rápida
Compare SF com o limite de escoamento do material. Se sua peça trabalha cíclica/fadiga, lembre-se: ensaio estático não cobre vida em fadiga. Procure curvas S-N e fatores de concentração (literatura CAPES/USP; guias clássicos de boas práticas em análise estrutural, como os manuais do NASTRAN)
Como interpretar os resultados (sem cair em armadilhas)
- Cores ≠ aprovação automática. Ajuste a escala para não “dramatizar” deslocamentos
- Von Mises acima do σy? Espera-se plastificação numa análise linear; reavalie o caso de carga ou mude o processo/material
- Convergência manda. Sem estudo de malha, o pico de tensão pode ser numérico
- Contatos importam. Passar de “Bonded” para “Sliding” pode derrubar a rigidez e aumentar deslocamentos; isso é física, não erro
Para embasar decisões em projetos críticos, consulte bibliografia pública (USP/MEF) e guias consagrados de boas práticas em FEA (documentação NASTRAN/NASA).
Sessão de dicas para resolver problemas comuns
- Malha explodindo/solver falhando: verifique corpos soltos, contatos mal definidos ou restrições insuficientes
- Tensões absurdas em cantos: arredonde arestas agudas no CAD (raio mínimo de fabricação) e refine malha na região
- Vínculo rígido demais: se a peça é aparafusada, modele faixas de restrição na face de apoio; evite travar vértices
- Carregamento distribuído melhor que pontual: em parafusos, simule pressão de apoio (“bearing”) na parede do furo
- Use simetria: metade ou um quarto da peça reduz custo e ajuda a depurar vínculos
- Fator de segurança realista: defina SF alvo de acordo com o uso (estático x impacto x térmico). Consulte normas e literatura (CAPES/Inmetro) Periódicos CAPES Serviços e Informações do Brasil
- Dados sempre com fonte: se faltar propriedade do material, busque NIST; se a liga for local e não houver dados, contrate ensaio via laboratório acreditado (RBC) NIST Serviços e Informações do Brasil
Dica extra (serviço público que ajuda de verdade)
Para fortalecer sua validação (estatística básica, interpretação de dados e incerteza), faça cursos gratuitos na EV.G — Escola Virtual de Governo (ENAP). A plataforma pública oferece trilhas de dados e gestão que ampliam sua capacidade de analisar resultados de simulação com senso crítico. Acesse a EV.G e explore o catálogo. Escola Virtual ENAP
Precisa de artigos e normas para justificar escolhas de material ou fatores de segurança? Se sua instituição é elegível, use o Portal de Periódicos CAPES e o acesso CAFe para bibliografia técnica.
Serviços e Informações do Brasil
Checklist rápido (copie e cole no seu projeto)
- Geometria limpa e unidades corretas
- Material revisado (E, ν, σy, densidade) com fonte pública
- Contatos realistas (Bonded vs. Sliding/Separation)
- Vínculos físicos (sem travar vértices)
- Cargas bem aplicadas (módulo, direção, área)
- Malha com refinamento local + estudo de convergência
- Mapas: von Mises, deslocamento, deformação, SF
- Revisão de hot spots e decisão (mudar geometria, material, processo)
- Registro das fontes (NIST, RBC, CAPES/USP)
Conclusão
Simular tensão e deformação no Fusion 360 é tão eficaz quanto o seu preparo: material confiável, contatos coerentes, vínculos físicos e malha convergente. Com esses fundamentos, você transforma mapas coloridos em decisões: engrossar uma parede, mudar o raio de um chanfro, trocar a liga ou repensar o caminho de carga.
Use as fontes públicas para enriquecer seu processo — NIST para propriedades, RBC/Inmetro para ensaios acreditados, CAPES/USP para bibliografia e EV.G/ENAP para formar seu olhar analítico. Salve este passo a passo e aplique no próximo projeto: cada iteração validada te aproxima de peças mais seguras, leves e competitivas.
